quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Dilma e Serra: entre a cruz e a caldeirinha




Se as pesquisas estiverem certas, Dilma Rousseff (PT) será a nova presidente do Brasil. E tem mais, a própria Rousseff já afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode voltar em 2014. Tem até um vice a altura: Sérgio Cabral (PMDB), governador do Rio de Janeiro.

Todavia, estas eleições deixaram clara uma coisa: é necessário investir urgentemente em educação, para evitar que o brasileiro médio seja manipulado pelo que quer que seja, religiões, políticos oportunistas...

As campanhas também deixam uma forte impressão: fazia tempo que não se via uma eleição tão feia, com tão baixo nível político. Talvez o único momento que se assemelhe a isso que vemos aí, foi quando Fernando Collor levou a televisão a mãe de Lurian, a enfermeira Miriam Cordeiro, para dizer que Lula quis que ela abortasse a filha. A cena foi triste.

José Serra usou a mesma artimanha de Collor e quase conseguiu virar o jogo, sob os olhos esbugalhados e incrédulos de Lula, Dilma e das cabeças mais pra frente do Brasil.

Não quero dizer com isso que Serra é retrógrado, mas a estratégia que ele usou foi. A campanha de Serra deu um Déjà vu do passado. Lembrou João Goulart e as passeatas com a Tradição Família e Propriedade (TFP), a igreja e a direita ultra-conservadora, que resvalaram no Golpe Militar de 1964. Não digo que hoje vivemos alguma perigo de golpe, isso não, mas que o Brasil, mais uma vez, ia caindo ladeira abaixo da sedução do ‘Serra é do bem’. Se Serra é do bem, Dilma é do mal? O tucano afirma que querem demonizá-lo, mas quem foi acusada de ser atéia foi Dilma. Foi Serra quem fez a balança da campanha pender para o lado da Igreja, de forma oportunista.

Serra se perdeu. Perdeu todo o pudor, toda a linha e a compostura, virou um impensado pústula, capaz de xingar uma mulher em pleno horário nobre e de fazer teatro frente as câmeras por causa de uma bolinha de papel. Para mim, já não importa se ele foi atingido por um rolinho de fita crepe ou não, mas a expressão que ele deu ao evento. Basta ver a reação diferente de Mário Covas que levou uma paulada na cabeça e enfrentou os manifestantes na mesma hora num discurso emocionado.

Em relação aos temas levantados pela campanha, mas não enfrentados por nenhum dos dois candidatos de forma séria. Sou contra o aborto, mas acho que as mulheres e seus maridos, ou pares, têm o direito de decidir. Sabendo exatamente o que estão fazendo. Podem sofrer até todo tipo de pressão – contanto que não seja violenta – para serem dissuadidos disso, mas devem ter o direito de seguir para onde quiserem seguir.

Depois se verão com Deus, sua religião e suas consciências sobre isso. É uma hipocrisia continuarmos negando o atendimento público quando o aborto continua existindo clandestinamente. E as únicas que realmente sofrem com isso são as mulheres mais pobres.

Sobre casamento gay? Deixem os caras e as minas se casarem com quem quiserem. Querem casar no civil? Jóia. Resguardem os direitos de seus amores. Querem casar na igreja? A católica não quer, nem a evangélica? Alguma há de querer. Em Londres já tem igreja católica só para homossexuais e não ficam pregando a abstinência ou dizendo que o povo vai para o inferno por sodomia. Há preocupações sociais mais reais do que ficar perseguindo e olhando com quem se está indo para a cama.

Mas voltando à campanha. Nós, eleitores, estamos entre a cruz e a caldeirinha. Ou nos convertemos às idéias religiosas e carolas de Serra e de sua esposa e abraçamos as igrejas que nos darão a salvação e o paraíso, ou aceitamos mergulhar no caldeirão fervente onde cozinhavam as bruxas. Parece que não há outra opção.

Essa é uma campanha louca. Insana. Sem sentido. Mas não vou votar em Dilma, apesar do clamor da esquerda, de quem normalmente sinto mais afinidade. A campanha mostrou a deficiência política de Dilma Rousseff. A mulher é competente como gestora pública, já demonstrou isso, mas tenho sérias dúvidas se ela conseguirá domar um Congresso clientelista e um PT afoito. Dilma talvez seja pequena para a máquina do partido e seus escândalos.

Uma amiga minha diz que o PSDB vem da elite e sabe muito bem como fazer seus esquemas. E quando esses esquemas, por algum motivo, explodem, são facilmente abafados, soterrados. Por isso, não vemos tantos escândalos nos governos tucanos. Segundo a tese dela, o PT é um partido de sindicalistas, onde as brigas e traições não respeitam nomes, onde as mazelas são lavadas em praça pública. Onde as famílias vão ao programa da Márcia brigar em público. Isso faz com que os escândalos sejam tão numerosos.

No final das contas vem vindo uma crise mundial por aí e ela vai chegar no Brasil qualquer hora dessas e nem Dilma – nem Serra – tem a estrela sortuda de Lula. Agora é cruzar os dedos e rezar pelo melhor. Mas digam aí: porque Aécio Neves (PSDB) e Ciro Gomes (PSB) não se candidataram? Teria sido mais interessante...

Postado por mastigada às 09:56
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