quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

OS MELHORES E OS PIORES NO CINEMA EM 2011



A coluna semanal Script, que escrevo para O Povo Online (www.opovo.com.br) desde agosto de 2006, com resenhas de filmes dos cinemas e alguns lançamentos em DVD e Blu-Ray, me dá a honra de, por mais um ano, listar os melhores e piores de 2011.


Foi um ano de poucos filmes, com quase 200 filmes vistos em 2011, número que pretendo melhorar consideravelmente em 2012, mas antes de conferir a lista há uma informação essencial para entender as minhas escolhas.


Independente do ano de produção, os elegíveis da lista são longas-metragens que estrearam comercialmente nos cinemas do Brasil do dia 1 de janeiro até 31 de dezembro de 2011 (nada de mostras especiais e/ou festivais de cinema). Não esquecer também o injustificável atraso das estréias de algumas distribuidoras, portanto há filmes de anos anteriores (que estrearam somente em 2011) e a possível ausência de prováveis indicados e/ou vencedores do Globo de Ouro e Oscar 2012, os quais muitos dos seus principais filmes estão programados para o ano vindouro.

Como bônus, listo também outras recomendações (e não-recomendações)... Sem enumerar a preferência, mas os encaixar em sentimentos. São emoções, raivas, sorrisos e sentidos cristalizadas em som e imagem nas telonas em 2011. Para o bem ou para o mal, minha lista é...

Os Melhores

À Flor da Pele...

O que não pode faltar numa película de Pedro Almodóvar? Muitas cores, personagens e situações bizarras, sexo violento, pessoas amarradas, transexuais, crime e obsessão. E sua nova criação, o suspense dramático, A Pele que Habito (La Piele que Habito, 2011) arrepia, deixa as emoções à flor da pele. E depois de um passado trágico, uma tentativa de transformar uma vingança num recomeço e o uso da medicina em detrimento da ética, afinal, os fins justificam os meios? Uma obra quase prima, inquietante, e de tão complexo caberá até como tese, dissertações e estudo de gênero, de sua ausência ou mudança.


Nina é uma jovem bailarina escolhida para ser a nova estrela de uma tradicional companhia de ballet. Em Cisne Negro (Black Swan, 2010) de Darren Aronofsky, sua protagonista respira ansiedade, transpira perfeição, mas se veste de obsessão. E com uma beleza tão densa, tensa e sufocante, que o drama, com nuances de suspense, transcende a tela e faz nossa alma deitar sobre o belo desespero de ser perfeito. A obra provoca, de uma forma brutal, mas bela, seus mais intensos sentimentos, uma viagem emocional, sem caminho de volta, uma rua sem saída que explode em sentimentos antagônicos. Loucura, simbolismo e psicologia se confundem belamente num roteiro denso, e que traduz plasticamente em imagens um espetáculo para a mente, coração e espírito.

A Volta da Magia em...

Woody Allen nos convida para conhecer Paris. E não apenas isso, pois quando for Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011), voltaremos aos anos 20 e encontraremos gênios da arte como Hemingway, Cole Porter, Luis Buñuel, T.S. Elliot, Picasso, Matisse, Salvador Dali, Lautrec, Gauguin, Degas... Imperdível até para quem não aprecia seu humor verborrágico, a magia está de volta e muito mais que uma viagem no tempo, é uma viagem de auto descobertas que tanto necessitamos, com uma visão sobre o passado, presente e futuro.

A comédia dramática O Palhaço (2011) dirigido, co-produzido, co-escrito, co-editado e estrelado por Selton Mello, de tanto cativar pela simplicidade se torna mágico. Uma sensação que traz também risos e apreciação dramática. Simples e bonita ao contar a história de uma trupe de circo pelo interior do Brasil nos anos 70 vai de encontro com a tradição dos picadeiros, e sua magia honra o ‘respeitável público’ e entrega um espetáculo legitimamente circense digno de aplausos.

Blockbusters de Classe...

Muito além de apenas um filme de heróis e uma aventura baseada em quadrinhos, X-Men – Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011) de Matthew Vaugh, é uma produção classe A. Com sua história que finca bandeira na tragédia (humana) anunciada, mas nunca previsível. Um elenco – ainda sem estrelas – mas digno de aplausos, diálogos formidáveis, uma trama que cresce em tensão e força, e uma sequência final que impressiona e arrepia.

O número zero que reinicia a franquia ao ir até a sua origem, Planeta dos Macacos - A Origem (Rise of The Planet of The Apes, 2011) de Rupert Wyatt, é uma aventura de ficção tensa, bem construída (mesmo com clichês animais X humanos) e traz um espetacular misto de interpretação/efeitos especiais/expressões de Andy Serkis, como o macaco César. No aspecto dramático o roteiro constrói muito bem a relação entre o núcleo familiar e César, o verdadeiro protagonista da obra. Todo o sentimento do mundo está nos seus olhos, e são transmitidos com extrema perfeição. Palmas de pé pela atuação de Serkis e a Weta Digital, responsável pela transposição dos efeitos. Sim, o macaco está certo.

As experiências sentimentais, na origem da vida ou no fim do mundo...

A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011) reafirma em imagens e divagações o estilo filosófico de seu diretor, Terrence Malick, em discutir sobre a origem da vida, e como ela ecoa pela eternidade. E sua representação olha de perto uma familiar impregnada com autoritarismo por um pai rígido e a criação angelical de uma mãe que é puro amor. Todas as reminiscências emotivas do filho mais velho, que cresceu em meio ao encontro antagônico de sentimentos, vêm dessa relação familiar com suas lições dolorosas, mas valorosas do pai, e do carinho irrepreensível da mãe. “Um dia você vai cair e chorar. E então vai entender tudo".

O fim está próximo. Um olhar para o horizonte. Um simples ato de cortar galhos, gravetos. Uma mãe desesperada corre com o filho nos braços. Na dança da morte um planeta engole, esmaga, destrói a Terra. Pinturas vivas abrem e resumem o belo, intenso e verdadeiro Melancolia (Melancholia, 2011), e para o diretor de Lars von Trier a Terra já era. Mas até o fim ainda há o amor, nem que seja numa barraca imaginária com gravetos, feitos com os mesmos galhos do início e que pareciam ser tão ordinários.

Westerns: os melhores filmes do ano...

Bravura Indômita (True Grit, 2010) dos Irmãos Coen, acerta no alvo com sua violência sem concessões, numa história que retrata brutalmente o fim da inocência tingido através do poder da vingança. Com tiroteios sensacionais e um final imprevisível, que só aumentam o nível de tensão, uma obra com grandes e cinematográficas imagens. Perfeito da cena inicial, que envolve um cadáver e o cair da neve, tão brutal quanto linda, e, a última (e especial) sequência: a exasperante cavalgada à luz das estrelas, tão bela quanto tensa. Um clássico instantâneo para as novas gerações, no gênero e da história do cinema.

Rango (Idem, 2011) de Gore Verbinski, o lagarto protagonista da fábula entrincheirada em clima de faroeste, se perder para se achar no desafio de viver a história de um estranho e inverossímil herói à procura de sua própria história. Um roteiro impressionante, metaforicamente bem elaborado com temas pertinentes, como a escravidão (ou dependência) através do poder (no caso religião e água); a hora de sair da caixa e buscar seu destino; a crise de identidade e a pergunta principal: Quem sou eu? Resposta simples, ninguém até ser alguém... Temos a clássica história da queda do herói, o mito desmistificado e a volta por cima.

Alegria e Tristeza na (Dupla) Menção Honrosa:

De atmosfera nostálgica, humor completamente ingênuo e assumidamente doce, Os Muppets (2011) é um filme que já nasce Cult, uma diversão analógica para toda a família. Não precisa ser 3D, nem ter um caminhão de efeitos especiais. Sua maior tecnologia é a história, a alegria e a emoção de fazer algo com o coração, como os próprios personagens demonstram em cada cena. Seu segredo está no sentimento verdadeiro expresso em nas canções pueris (na tela), nas cores vibrantes (do filme) e nos sorrisos puros (do espectador). Redescobrir o passado é delicioso. E de arrepiar.

O título original é Blue Valentine, algo como um triste romance, exatamente o que essa delicada obra é. Esqueça o título comercial do Brasil, Namorados Para Sempre (2010) não é uma comédia romântica tradicional, tampouco previsível. O que você verá é um drama pesado, triste e muito, muito belo. Cinema em alto nível e um show de interpretações (Ryan Gosling, um sensível apaixonado e a resolvida Michelle Williams) numa história de amor recontada aos pedaços. Entre a o fim de uma vida construída a dois e o começo, com incertezas e muito romance. Repleto de cenas inesquecíveis, no vai e vem cronológico dos fatos, de contraponto ideal entre o romance e seu fim, como na tentativa de romance no quarto do futuro (de iluminação azul, triste até dizer chega), e o uso da música do casal. Ao final, o que pode ficar aos pedaços é seu coração, mas os créditos finais de uma beleza ímpar, dão um suspiro de felicidade naquelas vidas destruídas, e nos relembra que, como dizia o poeta, tristeza não tem fim, felicidade sim.

Outros filmes recomendados: Tudo Pelo Poder (2011); Rio (2011); Cópia Fiel (2010); Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2 (2011); Amor à Toda Prova (2011); Operação Madrinha de Casamento (2011); O Discurso do Rei (2010); O Vencedor (2010); Pânico 4 (2011); Contra o Tempo (2011); Menção honrosa: Super 8 (2011);

Os Piores de 2011

10. O Turista;

9. Não adiantou Nicolas Cage (que tenta impressionar na cara de durão desesperado) ou Nicole Kidman (que se resume a fazer caras, boas e gritar) nem para desviar a atenção. Reféns é tão maçante que chega a ser sacal. E sem surpresas, tensão que se anula e burocraticamente dirigido por Schumacher. Que sono.


8. Conan;

- Seu pequeno se sai melhor como o imbatível Conan mirim. / suas (muitas) cenas de ação são bem fechadas. Pouco se percebe o 3D. Por muitas vezes nem conseguimos compreender o que se passa na tela, ou pelos menos localizar a ação, os personagens... / Seus elementos principais do original eram sangue, algum sexo, a violência e a magia. Conan era movido pela incansável fúria da vingança. E onde está a vingança quando o seu interesse romântico (que coisa mais estranha para colocar numa resenha de um filme sobre um bárbaro) é seqüestrada? E a magia? Não há quase nenhuma, ou apenas de fato na bela cena dos guerreiros de areia. Ao final Conan, O Bárbaro não é nada bárbaro. -

7. O pior das comédias americanas

Se no original Professora Sem Classe (2011) é Bad Teacher, ou Professora Má, a o título real bem que poderia ser Bad Movie, ou na tradução, Filme Ruim. A dita comédia (!?) não merece nem recuperação nem dependência, está reprovado direto e vai fácil para a lista dos piores do ano. Então turma, pode faltar essa aula...; Se você acha que já viu tudo de apelação na comédia, você ainda não viu Eu Queria Ter a Sua Vida (The Change-Up, 2011). Bem, na verdade, eu não queria ter visto esse filme. Se o mote já - troca de corpos entre um pai de família e um boa vida já é batido, fica pior e bem pior com o nível, ops, na verdade a falta de nível dessa obra medonha; Professora sem classe; O Zelador Animal (Zookeeper, 2011) é assumidamente um filme infantil. E até demais. Na trama um zelador foi chutado por namorada tenta recuperá-la com a ajuda dos animais. Com um detalhe, os animais falam. O resultado é de humor meramente físico, esquecível e bobo, muito bobo;

6. O ridículo das comédias nacionais...

Perdoe o trocadilho, mas mediante o resultado final e o título da comédia nacional Cilada.com (Idem, 2011) de José Alvarenga Jr., a produção se auto resume como uma cilada. Grosseira, apelativa e – um pouco diferente de sua origem como série de TV – nada inteligente. Se antes, as ciladas em que Bruno Mazzeo se metia na tela pequena eram mais dialogadas e bem menos pastelão, na tela grande todas as piadas envolvem muitos palavrões, nenhuma sutileza e bastante sexo. Nada contra, mas se ri duas vezes, foi muito. Volta pra TV, volta.

Situações constrangedores, atuações sofríveis e um texto, além de previsível, muito sem graça. O (engraçadinho) personagem Magrão resume o filme Vira-Lata, ops, Qualquer Gato Vira-Lata com seu bordão em várias ocasiões: “Iiiii... Patético, brother, patético!”. NOTA: 2,0

5. As histórias são reais, mas os filmes não mereciam existir...

São intermináveis 100 minutos, que parecem muito mais de duas horas. Procura ação? Tensão? Não encontrará nada disso aqui. Se o crime não compensa, o crime cinematográfico Assalto ao Banco Central (2011), muito menos. Eriberto Leão solta uma das pérolas do longa, e, após o assalto bem sucedido dispara “nessas horas, dá o maior orgulho de ser brasileiro”. E eu respondo: de um filme como esse eu tenho é vergonha. Do filme, não de ser brasileiro.

Com atores e situações dos outros filmes espíritas (Bezerra de Menezes, Nosso Lar e Chico Xavier), As Mães de Chico Xavier (2011) parece ser o primeiro filme nacional a ter e ser um crossover (cruzamento de informações), spin-off (personagens de filmes anteriores em outros filmes) e continuação juntos num só produto. Requentado, simplório, e que martela os preceitos espíritas para o grande público. E, abordar a questão do aborto de uma forma que só existe um lado, transforma a situação em dualismo moral, transformando o caso num embate do bem VS, o mal. E a frase final "dedicado às crianças vítimas do aborto provocado" só piora tudo.

4. Vergolha Alheia...

Padre (Priest, 2011) é tão confiável quanto um produto genérico mais barato vendido por um coreano na esquina. Ex-soldado da Igreja que combateu o mal luta contra o retorno dos vampiros e do poder de uma sociedade totalitária. Roteiro que aposta na ação (e suas cenas exageradas), sem aprofundamento psicológico ou mesmo dramaticidade numa trama tão rápida quanto o trem supersônico do longa. As más atuações do elenco só corroboram para o saldo final nada recompensador. A boa notícia é que é curto, com menos de uma hora e meia. Mas ainda assim é uma experiência (sonolentamente) ruim.


Feito com a vontade de ser a adaptação do conto de “Chapeuzinho Vermelho” (dos Irmãos Grimm) para a geração “Crepúsculo”, incluindo aí a diretora Catherine Hardwick, mas Deu a Louca na Chapeuzinho, ops, A Garota da Capa Vermelha (Red Riding Hood, 2011) é hilário. Resultado: vergonhosamente um vexame a todos os envolvidos. O que era para ser um misto de suspense e romance de época se tornou apenas e tão somente patético.

3. O lado mais podre do Blockbuster...

Sabe o termo perda total? Quando, em vez da reparação do veículo, a seguradora paga uma indenização em dinheiro por ser mais vantajoso pagar o prejuízo do que consertá-lo? Pois é, Transformers 3 (Idem, 2011) é ‘quase perda total’, e sem a compensação financeira... Só não ganha o carimbo de ‘PT’ pelos efeitos realmente especiais (que todos os milhões da produção podem justificar) e um espetacular 3D, que merece elogios. O resultado final é algo entre um comercial de pasta de dente (ou seria de moda?), vários videoclipes (quero ser) pop, uma grande campanha publicitária de carros (GM?) ou do poderio militar americano (com a mensagem ‘não mexa comigo, porque sou poderoso!’). E em 3D. Escolha a opção que você preferir.


Conferir Amanhecer – Parte 1 (The Breaking Dawn – Part 1, 2011) de Bill Condon, no cinema é um teste de paciência. Não por causa das fãs histéricas ou qualquer outra coisa. O mais irritante, aborrecido e cruel é ter de conferir algo tão sem conteúdo. Uma coisa que se denomina “saga”, sem jamais alcançar tal chancela. Que prega (e tenta justificar) conceitos bizarros e brinca com a natureza de personagens míticos (lobos e vampiros) em prol de um romance insípido, inodoro e incolor. Não se desfaz o poder do amor, o mito da paixão em prol de nada. Aqui tudo se esforça para ser ridículo. E consegue, é esfacelado, destroçado, liquidificado num resultado que é pura comédia de tão ruim. Uma comédia involuntária.

2. Trash do Trash...

De 3D grosseiro e conteúdo ainda pior, Fúria Sobre Rodas (Idem, 2011) é um trash do trash, e de bizarrice infinita. E que, ainda se assumisse como algo do gênero citado acima, continuaria muito, mas ruim. E que mesmo calcado no exagero, em falas bizarras, incontáveis situações toscas, não-atuações e momentos de gargalhar, o filme de ação se leva muito à sério. Não dá.

1. Imbatível:

A vida de um escritor parece estar conectada ao número 11, e é sugerido que o dia 11-11-11 será apocalíptico, o qual o abrirá o 11º. portal blá blá blá... No final é uma ideia concebida com a data sem nenhum tipo de sustentação. Sustos? É mais fácil rir dos absurdos narrativos do (não) suspense. Desaparecimento de personagens, situações completamente implausíveis, defeitos especiais, uma mensagem da manipulação através da religião e uma pretensa reviravolta final o fazem profeticamente um nada.

Menção desonrosa: Carros 2 (Cars 2, 2011) manchou o lastro Pixar de perfeição. Não sei como ela consegue; Suker Punch;

*Daniel Herculano (siga no Twitter @DanielHerculano) é estudante de Jornalismo e titular do programete #Cineminha na Beach Park FM 101.7. Crítico de cinema formado em cursos de Ana Maria Bahiana (Uol/Globo de Ouro), Pablo Villaça (Cinema em Cena/OFCS), Ruy Gardnier (O Globo/Contracampo) e Joaquim Assis (Roteirista). É graduado em Comunicação Social e assessor de comunicação da A+ Business Criativo.

FONTE: http://www.opovo.com.br/app/colunas/script/2011/12/28/noticiascript,2364400/o-melhor-e-o-pior-de-2011-no-cinema.shtml

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