quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Globo versus Record


Por FABRICIO VASSELAI
18 de Julho de 2011


Depois de um debate esses dias, peguei-me pensando sobre as quedas de audiência da Globo e crescimento da Record. E resolvi compartilhar com vocês, rapidinho, a minha posição sobre o tema. Esse sempre é um assunto que causa aparentes conflitos: de um lado, muitos comemoram o crescimento da emissora proto-evangélica esquecendo que ela depende de dinheiro conseguido à custa de exploração religiosa e a serviço muitas vezes de lideranças religiosas intolerantes (reparem: refiro-me aos líderes, não aos evangélicos em si). Por outro lado, muitos diminuem a importância do fim do monopólio da Globo exatamente por causa disso, mas esquecendo-se de que a própria Globo nasceu e cresceu com dinheiro muito suspeito: primeiro, conseguindo dinheiro e estrutura de um grupo internacional, o Time-Life – o que a despeito das manobras jurídicas, estava ao arrepio do que a regulamentação nacional desejava. Depois, utilizando-se de recursos e do apoio da ditadura militar – à qual retribuiu sendo uma emissora solidária.


O assunto, portanto, é aparentemente daqueles difíceis de ter lado: é fugir do ruim para abraçar o pior. Só resta escolher quem é o ruim e quem é o pior. Do ponto de vista moral e do ponto de vista da cara que queremos à comunicação de massa do país, quem escolhemos? Preferimos a emissora que passou a vida interferindo na política nacional e sempre ao lado dos poderosos, dos ditadores e dos corruptos que às vezes é obrigada a acusar? Ou preferimos aquela cujas lideranças são frequentemente incentivadoras da intolerância, da homofobia, do conservadorismo deletério e até mesmo da perseguição religiosa? Qual manipulação escolhemos: aquela da Globo nitidamente tucana ou a da Record ainda ligeira mas crescentemente lulista? Isso para não falar da dimensão técnica e de conteúdo: preferimos o padrão Globo de qualidade técnica muito superior, mas eugênica e elitista, ou as produções da Record que já há tempos lembram que a classe C existe mas ainda parecem muitas vezes toscamente produzidas?


Façam-se as escolhas de preferência. Cada um com sua aposta e carinho. Escolham se a Globo do Bonner e Fátima Bernardes faz melhor ou pior jornalismo que a Record do Paulo Henrique Amorim. Ainda que na Tv a Cabo a diferença de qualidade seja mais difícil de questionar: enquanto a Globo News tem questionáveis Miriam Leitão e William Waack, a Record News agora vai de Heródoto Barbeiro e Ricardo Kotscho – sem comparação portanto. Mas no jornalismo da TV aberta, nas posições editoriais, nas atuações políticas de bastidores, quem é para vocês o maior inimigo da nação? Os Marinho ou a pior turma das lideranças evangélicas? Eu arrisco uma resposta, caros leitores, que para mim simplesmente mostra a falsidade dessa pergunta que tanto se coloca à nossa frente implicitamente na hora de pensar, ler ou analisar a situação de decadência da Globo nos últimos anos. Para mim, essa questão de qual seria menos pior não apenas não existe, como é uma falácia malandra.


É simples: pouco importa qual das duas emissoras, Globo ou Record, é pior para o Brasil: o que importa é que, nesse assunto, duas péssimas é muito melhor do que uma. Se um dia tivermos o desprazer de ver a Record monopolizar as comunicações nacionais, poderemos discutir se preferimos domínio de uma ou de outra. Mas essa situação nunca aconteceu: a Globo é líder ainda isolada. Aqueles que comemoram a ascensão da Record não o fazem porque sejam tietes dessa emissora, mas sim porque se sentem felizes com o gradual fim de um monopólio de décadas. E fim de monopólio é sempre bom: obriga os concorrentes a inovar, a se posicionar, a se equilibrar, a apoiar políticos diferentes, a repensar estratégias. Por isso acho um tanto falacioso quando pessoas de muita respeitabilidade me dizem que o crescimento da Record não é grande coisa, porque a Record tampouco seria “flor que se cheire”. Ora, ainda que se pense isso, pergunto: é melhor duas emissoras de pouca confiança brigando pela audiência ou uma delas mandando no país? Eu prefiro duas. Aliás, prefiro três, quatro ou cinco. E aliás, prefiro duas ruins a uma boa. Não se trata de uma preferência por quem é melhor ou pior, mas sim de torcer contra monopólios. Simples assim. A pergunta portanto está deslocada: ninguém fica feliz com Globo ou Record dominando o país. Fica feliz sem domínios. E portanto, comemore-se sim, e sem vergonhazinha politicamente correta, cada vez que a Globo perder audiência – independentemente de para quem perca.

fonte|:http://politicando.blog.br/?p=1440

Um comentário:

  1. Parabéns pela análise, realmente duas coisas horríveis se degladiando é melhor que uma só imperando. Mas será que já não está na hora de começarmos uma pressão para acabar a concessão para estes canais?

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